domingo, 19 de junho de 2011

Identidades

Identidade é um processo de construção de significado com base em um atributo culural, é um processo histórico e não biológico. A identidade que construímos ao longo desse processo de formação, que digo ser constante, é fruto da sociedade em que vivemos, que quando criança nos impõe determinados paradigmas que irão “orientar” nossos comportamentos e ações.
   Cresci em uma comunidade denominada de Lobato, no subúrbio de Salvador, primeiro local a ser descoberto o petróleo no Brasil, por ser o primeiro local a ser descoberto o primeiro poço de petróleo do Brasil sua estrutura social e urbana deveria ser outra, só deveria... O Lobato é um bairro da periferia de Salvador, possui uma comunidade carente e tem um vista belissíma para a Ribeira. A riqueza do bairro  são os seus moradores, pessoas fortes e batalhadoras que não deixam de lutar e sonhar por um presente e futuro melhor. Foi nesse cenário que me “constitui” e porque não dizer, me constituo. Pois acredito que estamos sempre em processo de mudança. Como diz Guimarães Rosa em sua célebre obra Grande Sertão Veredas “ O senhor...Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando.” Acredito muito nesta idéia de sermos uma metámorfose ambulante e me considero assim.
      Sou negra, nasci em uma família de negros e até meus 20 anos de idade tinha dentro de mim a pedagogia do embranquecimento, a sociedade na qual nasci e fui criada determinava ou determina certas normas e conceitos que ajudaram na construção de uma subjetividade negada. Estudei toda vida em escola pública e desde criança ouvia frases que me faziam ter vergonha de minha cor, queria ser a cabo verde, a morena e até loira ( influência do programa de Tv da Xuxa), mas nunca negra. Aos 11 anos de idade os meus cabelos crespos já sentia o peso dessa negação, já fazia alisamento, através da chapinha, nada contra em alisar cabelos, desde que isso seja uma escolha e não uma imposição, e assim fui crescendo, tendo como referencial de estética pessoas brancas e loiras, ouvindo frases do tipo “ Esse negro tira uma onda, imagine se fosse branco”. Queria ser tudo menos negra. Mas, ainda bem que podemos ver  temos possibilidade de mudanças.
     A partir do momento que comecei a frequentar um cursinho pré-vestibular social, fui tendo contato com um outro tipo de formação e visão, no qual ocorria uma valorização do ser negro e também do ser mulher. Pois se ser negro nessa nossa sociedade já é “complicado”  imagine ser mulher e ainda por cima ser suburbana, ou seja, todas as “marcas” para se dar mal na nossa sociedade. Pois bem, esse novo contato com esse tipo de educação e conscientização possibilitou a reflexão sobre certos conceitos e valores que norteavam a minha vida. Aprendi a ser negra, a valorizar a minha codição e deixar falar mais alto a minha individualidade. Nessa trajetória, estou aprendendo a respeitar a diferença e as diversas identidades que compõe a história de uma pessoa, principalmente a minha. Para mim, essa descoberta ao mesmo tempo que é prazerosa é pertubadora, pois descobrir que não possuo apenas uma identidade e sim várias que requer de mim diferentes posições em determinados contextos. Esse processo   não é algo acabado, é algo complexo e mutável.
   Assim nessa teia, vou tentando recompor a minha identidade ou minhas identidades e escrevendo na folha da vida a minha verdadeira história e não as histórias que construiram para mim.